Madagascar

Viajante Cia Eco

Eduardo Alves Maria - Madagascar

Madagascar me surpreendeu em cada detalhe, das trilhas em meio à floresta tropical aos encontros mágicos com os lêmures e as baleias, foi uma jornada intensa, selvagem e inesquecível.

No dia seguinte logo as 6 da manhã partimos para Andasibe. A névoa matinal e o frio logo dão lugar ao sol enquanto meu motorista dirigia pelas estradas. As Paisagens entre montanhas e vales com suas plantações de arroz vão surgindo pelo caminho entre as centenas de curvas da estrada. À tarde chegamos até ao lodge onde eu ficaria hospedado pelos próximos dias e logo após fui fazer minha primeira visita ao parque para avistar os lêmures.

Ao entrar na floresta secundária da reserva de Analamazaotra em poucos minutos já avistei um lindo Sifaka branco e marrom nas árvores, gracioso ele escalava e se movia com certa facilidade e elegância entre árvores, esta espécie lembra muito os macacos, mas os grandes olhos esbugalhados e focinho alongado deixam bem claro se tratar de outra espécie. Ao fundo se ouvia o canto lamurioso dos Indri, a maior espécie de lêmure, chegando estes até 1 metro de altura, em mais uns poucos minutos caminhando pela floresta já me encontrava em frente a um grande grupo de Indris, realmente são animais lindos, para finalizar um casal de Bamboo Lemurs, uma pequena espécie de lêmure, veio até mim e parou em frente em uma árvore a um metro de distância aproxima damente e ficaram me olhando e se exibindo. Realmente foi um dia memorável, já fiz muitos safáris e sei como às vezes é frustrante não conseguir ver os animais afinal em um ambiente selvagem quem dão as cartas são eles, mas este era apenas o início da aventura então o que será que eu poderia esperar nestes próximos dias?. Às 6 da tarde parti para minha primeira caminhada noturna pela floresta, quando se entra na floresta a noite o que impressiona é a escuridão, os sons atiçam seus sentidos, mas sinceramente achava que não conseguiria ver muita coisa, porque como ela poderia achar algo em tal penumbra? Poucos minutos após adentrarmos a mata, um camaleão e alguns insetos, não sei como ela conseguia ver tais animais, mas para minha felicidade ela os achava. Ela me disse que estava procurando pelos lêmures notur nos, mas naquela noite não foi possível encontra-los.

Na manhã seguinte partimos rumo a Andasibe- Mantadia Nattional Park. A Estrada de terra com muita lama e a neblina completava o clima de aventura. Chegando lá entramos pela floresta primária, florestas tropicais primárias são exuberantes, com árvores imensas, uma enorme variedade de plantas, insetos e animais, também são difíceis de se caminhar, mas todo esforço vale a pena ao se ver um ambiente intocado. Lá avistei vários Sifakas, umas 3 espécies de Bamboo Lemurs, vários Indri e uma espécie notura que estava em torpor em um abrigo entre algumas palmeiras, algumas espécies não conseguem dormir então elas entram em um tipo de hibernação chamado torpor similar ao que acontece com o nosso colibri. Novamente foi uma ótima caminhada compensando toda a dificuldade de andar pelos arbustos e árvores em terrenos difíceis e levando todo o pesado material fotográfico. Após um piquenique fui para Reserva Privada de Vakona , conhecida como Ilha dos lêmures . O legal deste lugar é poder interagir com algumas espécies de lêmures e ver outras de perto. Chegando você entra em um bote e ao desembarcar é logo recebido por uns simpáticos bamboo lemurs que pulam em você e proporcionam divertidas fotos. Lá é possível interagir também com o famoso lêmure de cauda anelada (imortalizado pelo desenho da Dreamworks Madagascar como o rei Julian). À noite fiz novamente outra caminhada noturna pela floresta, mas desta vez avistei muito mais espécies, camaleões, aranhas, sapos e um casal de lêmures noturnos, não é que era o Maurice de Madagascar rss. Foi um dia intenso e cheio de surpresas.

Dia seguinte, hora de partir por mais muitos kms de estradas tortuosas com belas paisagens passando por muitas vilas até a tarde onde visitei uma fundição de alumínio em Ambatolampy. Madagascar não produz alumínio, então eles compram sucata de alumínio e derretem em fornos improvisados de tijolos com carvão e fazem panelas e outros utensílios de alumínio fundido. A forma é feita com um tipo de areia negra que eles moldam no formato das panelas e depois enchem com o alumínio derretido. O que choca são as condições insalubres de trabalho, muitas vezes sem proteção alguma contra o pó, a fuligem e o próprio alumínio derretido. Mas o processo é bem interessante.

Outro dia seguindo viagem e muitas e muitas curvas, incrível cheguei à conclusão que a menor distância entre dois pontos é uma curva ou várias rsss. As belas paisagens iam se alternando entre as montanhas e vales às vezes cortando por pequenas vilas, algumas com um transito louco. Imagine centenas de pessoas, Riquixás, Tuc tucs, bois, uns carrinhos que eles fazem de madeira, carros, motos, bicicletas e caminhões todos disputando o mesmo espaço. É bem louco, mas divertido, pelo menos para mim que não estava dirigindo. Em Ambositra, fui visitar um lugar onde se produzem peças de artesanato em madeira. Fiquei impressionado com os trabalhos em Marchetaria, realmente lindos, pena que não tinha muito espaço em minha mala. Praticamente sem muitos recursos e com muita cria tividade eles fazem uns dos trabalhos mais bonitos que já vi. As pecinhas são cortadas usando um cabo de aço tirado de um talão de pneu que ele corta no tamanho desejado e depois com um formão ele faz os dentes, transformando em uma serra que é usada para se cortar as pecinhas que mais tarde serão coladas para se criar a figura desejada. Estou anexando algumas fotos do processo e do trabalho concluído. Depois seguimos até a reserva de Ranomafana onde no outro dia faria um novo trekking pela floresta.

Ranomafana é um lugar deslumbrante, uma enorme floresta tropical incrustrada entre montanas e vales com a maior cachoeira de Madagascar, realmente lindo, mas desafiador. Esta foi realmente a mais difícil caminhada, a úmida floresta e a grande inclinação do terreno fazem tudo ficar muito difícil, ainda mais quando se carrega quilos de equipamentos, comparo suas ladeiras com as de Bwindi em Uganda, pelo menos não estava chovendo. O parque é lindo e tive muita sorte com um guia bem experiente e com um ótimo rastreador que me ajudou muito na localização das especies. Das 7 especies de lêmures, vi 6 e também alguns lagartos, camaleões e pássaros. O esforço ao subir as ingrimes ladeiras com 70° de inclinação por 150 metros foi recompensado pela diversidade e beleza dos animais e paisagens. À tarde seguimos pelas tortuosas estradas até Sahambavy cruzando diversas vilas.

Chegando ao Hotel, tive uma engraçada surpresa, como o hotel estava cheio me deram um upgrade e fiquei no vagão nupcial, hahaha foi cômico, era um enorme vagão de trem que transformaram em um quarto completo, tinha um grande jardim particular e uma área cercada privativa. Como diria rei Julian de Madagascar: Estou em lua de mel comigo mesmo porque me amo rsss. Brincadeiras a parte foi ótimo bônus após um dia tão cansativo em Ranomafana.

No dia seguinte fui para Ambalavao, lá visitei o local onde eles produziam tecidos artesanais com seda e algumas fibras vegetais fazendo lindos tecidos e depois fui até uma fábrica de papéis artesanais. Trabalhos muito bonitos mesmo, mais tarde segui para a reserva Anja. Com o ambiente bem mais árido esta reserva tem diversas surpresas, a maior delas é encontrar o famoso lêmure de calda anelada em seu habitat natural, Impossível não se lembrar do rei Julian cada vez que os vejo. O parque é muito bonito, mas escalar a montanha com muito calor após Ranomafana foi um pouco dolorido, mas a vista lá de cima compensou tudo . No parque vi algumas espécies de camaleões e pássaros também. Depois seguimos para Ranohira. Antes de chegar ao hotel fui ver o por do sol no deserto entre monólitos de arenito, como sempre um grande espetáculo da natureza.

Logo pela manhã era hora de conhecer o Parque Nacional de Isalo. Era um trekking de aproximada 8 horas. A região de Isalo é muito bonita, muito árida a região lembra um pouco os desertos americanos e um pouco as vegetações da savana africana. Estas enormes montanhas de arenito nos fazem lembrar que um dia tudo aquilo esteve embaixo do oceano, cortadas por enormes vales com muitas surpresas escondidas prontas para serem descobertas. Meu guia, foi me levando e me explicando tudo enquanto caminhávamos. A vista quando se subia nas montanhas era de tirar o folego, no caminho, insetos, pássaros e até escorpiões me eram apresentados. Após caminhar alguns quilômetros chegamos ao um verdadeiro oásis, no meio de toda aquela aridez surge uma cachoeira e uma lagoa com águas verde esmeralda, realmente parecia uma miragem, lindo lugar. Após mais alguns quilômetros chegamos a um desfiladeiro que após um breve descanso descemos até a floresta que se encontrava no fundo do vale. Ao chegar lá muitos lêmures de calda anelada que adoravam roubar a comida daqueles visitantes desavisados e alguns Sifakas, estes Sifakas que fui encontrando eram sempre outras sub-espécies com cores completamente diferentes. Sifaka para quem não conhece, são aqueles lêmures que andam pulando como se estivessem dançando. Depois de mais um merecido descanso segui para conhecer a lagoa e a cachoeira que muitos dos visitantes haviam ido ver. O caminho era bem ingrato, ainda mais quando você está carregando câmeras e peso, entre muitas pedras e uma trilha estreita serpenteando entre um riacho límpido em um sobe e desce interminável que ap&oacut e;s infindáveis minutos chegamos. Bem, eu esperava muito mais , aquela primeira que havia visto ganhava de dez a zero, mas isto é minha opinião, talvez pelo cansaço ou haver gente de mais para meu gosto não me agradou tanto. Fiz um piquenique lá e depois voltamos. Seguindo por mais alguns quilômetros e a caminhada chegava ao fim. Foram 6 horas, duas a menos que o previsto, Isalo havia me mostrado alguns de seus belos segredos.

Dia seguinte e era hora de visitar a Mina de Safira de Ilakaka. A pequena vila formada por principalmente mineradores fervia de gente, após algumas burocracias seguimos até a mina acompanhado de seguranças. Aquilo tudo me fez lembrar de algumas antigas imagens de garimpos, enormes montanhas de terra extraídas por força braçal onde eram cavadas enormes e profundas covas que eram drenadas por bombas rudimentares e ao redor dezenas de crianças brincando, infelizmente está é a realidade para muitas pessoas que vivem do sonho de uma vida melhor, quando quem na realidade enriquece é apenas o dono da mina. Lá foi demostrado e explicado todo o processo de extração das safiras e depois visita-se uma loja para quem quiser comprar algo.

No outro dia seguimos para Ifaty, no caminho paramos no Parque Nacional de Zombitse que fica em uma área de transição do deserto para zonas mais húmidas. No parque avistei outras espécies de lêmures, inclusive a menor espécie que estava em torpor em meio ao tronco de uma árvore, ele tem aproximadamente o tamanho de uma maça pequena, alguns Sifakas diferentes e a árvore típica de Madagascar o Baobá. Existem 9 espécies de Baobás sendo que 7 se encontram em Madagascar. O caminho até Ifaty é pontilhado por estas tão icônicas árvores. Em Tuléar visitei a reserva Arboretum. Esta reserva é na verdade um grande Jardim botânico com muitas espécies da região. A vegetação árida mostr a toda sua beleza entre espinhos, flores e galhos retorcidos. Apesar do calor sufocante é um lugar bem interessante de se visitar. Muitos pássaros entre as plantas, borboletas azuis e você também pode observar as tartarugas endêmicas de Madagascar, depois seguimos até Ifaty onde me despedi de meu motorista, foram mais de 1000 quilometros de estradas por onde ele me guiou me mostrando as belezas de seu país.
Em Ifaty, fiquei em um bangalô de frente ao mar com uma vista deslumbrante onde no dia seguinte iria fazer a primeira observaçãode baleias. Ifaty tinha uma praia pequena de águas calmas devido a baia formada pelos recifes. É um lugar aconchegante e relaxante para se descansar após esta longa jornada.

Logo pela manhã fui até a praia para o passeio de observação de Baleias em Ifaty, peguei um barco pequeno e logo depois foi fornecido um colete salva-vidas para mim e os outros ocupantes, nenhuma informação foi passada apenas pediram para que a gente seguisse para o barco. O barco era bem pequeno do tamanho daquele que a gente vê normalmente nas praias usados por pescadores. Após passar pelos recifes o barco seguiu por quase 1 hora navegando pelo mar e espirrando muita água em cada onda que ele vencia. Quando encontramos as baleias ele começou a segui-las e acompanha-las a certa distância, bem não sei como consegui tirar umas fotos porque o barco parecia uma montanha russa e era extremamente difícil saber onde elas iriam emergir. Tirando o caso do barco não ser o mais ind icado, o que vou explicar melhor quando relatar as outras observações que tive, é um belo espetáculo. As baleias Jubarte saltam e se movem com uma agilidade que impressiona. Ao finalizar a observação, guardei as câmeras na minha mochila que é impermeável e seguimos o caminho de volta. Durante a volta, enquanto o barco acelerava ele ia batendo nas ondas e era como se um balde de água fosse jogado em cima da gente. Não sei precisar quanto tempo demorou, mas quando chegamos estávamos todos encharcados. Bem, divertido foi a gente ria muito, mas acho que eles deveriam avisar sobre estas coisas, principalmente em relação ao uso de equipamentos, porque se eu não tivesse uma mochila impermeável e guardasse a câmera na hora certa teria estragado tudo. Acho que se alguém quiser fazer o passeio ele tem que ser bem instruído. No resto do dia sequei as minhas roupas e aproveitei o hotel.

Após Ifaty voltei para Antananarivo e depois fui para Sainte Marie onde seriam os meus últimos dias em Madagascar.

Depois de todos os voos cheguei a Sainte Marie, um lugar extremamente lindo. O Hotel era muito bom e minha cabana ficava de frente para o mar a poucos metros da praia. Uma praia linda de aguas verde esmeralda emoldurada por belos coqueiros. Aproveitei o resto do dia e no dia seguinte eu teria outra observação de baleias. Por volta das 6 horas quando estava no lodge do hotel para acessar a internet, começou uma palestra sobre Baleias feita pelo CétaMada (https://www.cetamada.org), uma ONG de conservação no qual eles explicaram diversas coisas, contaram curiosidades, explicaram sobre a linguagem corporal das baleias e até sobre o grave problema de poluição plástica, é realmente alarmante saber que a gente esta consumindo em micro-plástico a quantidade relativa a um cartão de cré dito a cada 2 ou 3 semanas. Fiquei animado, por ver a boa estrutura que eles tinham para observação de baleias, só esta palestra já foi um grande diferencial.

No dia seguinte logo cedo parti para meu passeio. Eles nos transferiram para o local onde começaria a aventura. Agora comparando com a observação anterior, ao chegar a nossa guia explicou que o barco iria até a área onde se encontravam as baleias e quando fosse seguro poderiam ser tiradas as câmeras. Eles forneceram um lugar para guardarmos o que não quiséssemos levar, nos deram um abrigo para nos proteger e os coletes salva-vidas, eles deram uma explicação sobre o que iriamos ver, mostrarm os tipos de movimentos e após todas as instruções fomos ao barco. Lá no barco forneceram um lugar seguro para guardar o meu equipamento. Quando avistamos as baleias, eles avisaram que era seguro usar as câmeras e assim por umas 2 horas fomos às acompanhando enquanto elas f aziam diversos movimentos e saltos espetaculares. Ao fim eles falaram para guardar os equipamentos e seguimos caminho de volta. Retornando ela nos mostrou todos os movimentos que avistamos e tiraram as dúvidas caso estas ainda existissem. Excelente, dou nota 10 para o serviço deles. A tarde aproveitei a praia e o hotel para no dia seguinte fazer o passeio para ilha de Nattes.

Recomendo muito este passeio, está é aquela pequena ilha no sul de Sainte Marie, você pega um barco que circunda toda a ilha parando em diversas praias navegando entre a barreira de corais. A cor da água vai do verde esmeralda até o mais profundo azul. É difícil descrever o quão belas são as paisagens que lembram as paradisíacas ilhas da polinésia, você também conhece a vila da ilha e o almoço está incluso. Felizmente e eu tive um bônus ainda quando sai do hotel , haviam 3 baleias acompanhando o recife perto da praia e acabei as observando de perto, desta vez em um mar bem calmo. Este foi um presente de despedida de Madagascar, uma ilha que me mostrou seus segredos e me encantou com a generosidade de seu povo, a beleza de sua natureza selvagem e paisagens para disiacas.

Agradecimentos especiais a toda a equipe da Cia Eco por toda atenção e sempre dispensada.

Agradecimentos também ao pessoal do receptivo sempre muito atenciosos e prontos a resolver qualquer problema e um abraço especial ao meu guia pelos mais de 1000 kms me mostrando as belezas de sua terra.

E claro a todos os Guias, rastreadores e todas as pessoas envolvidas que tornaram estes dias tão memoráveis o meu muito obrigado ;-)

Eduardo Alves